Canto IV: Estrofe 74 (Discurso do Rio Ganges no
sonho profético do rei D. Manuel I )
«Eu sou o ilustre Ganges, que
na terra
Celeste tenho o berço
verdadeiro;
Estoutro é Indo, Rei, que
nesta serra
Que vês, seu nacimento tem
primeiro.
Custar-te-emos contudo dura
guerra;
Mas, insistindo tu, por
derradeiro,
Com não vistas vitórias, sem
receio,
A quantas gentes vês, porás
freio.»
Canto IV: Estrofe 76
Chama o Rei os senhores a
conselho,
E propõe-lhe as figuras da
visão;
As palavras lhe diz do santo
velho,
Que a todos foram grande
admiração.
Determinam o náutico aparelho,
Pera que, com sublime coração,
Vá a gente que mandar cortando
os mares
A buscar novos climas, novos
ares.
Análise
Estas duas estrofes descrevem
dois momentos subsequentes: em primeiro lugar, o sonho que o rei D. Manuel
teve, no qual lhe apareceu o Rio Ganges para profetizar sobre Portugal, sendo
que, mesmo depois de dar aos portugueses “dura guerra”, este grande povo lusitano
iria dominar novas terras ultramarinas: “Mas, insistindo tu, por derradeiro. /
Com não vistas vitórias, sem receio. / A quantas gentes vês, porás freio.”
Em segundo lugar, a atitude
imediata do rei, avisando os seus súbditos sobre os feitos gloriosos a eles
reservados, o que os anima e faz partir de Lisboa em direcção ao Oriente,
ávidos dessa glória, como se pode ler em “Determinam o náutico aparelho. / Pera
que, com sublime coração, / Vá a gente que mandar cortando mares / A buscar
novos climas, novos ares.” Repare-se na perífrase “náutico aparelho” (em vez de
nau/caravela/barco) cuja expressividade é a de realce do meio por onde esse
“aparelho” iria movimentar-se: o mar.
- Rio Ganges
- Rio Indo
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