terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Caracterização dos Personagens em "Felizmente Há Luar!" - Os Governadores


Beresford: personagem cínica e controversa, aparece como alguém que, desassombradamente, assume o processo de Gomes Freire, não como um imperativo nacional ou militar, mas apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e da sua tença anual. A sua posição face a toda a trama que envolve Gomes Freire é nitidamente de distanciamento crítico e irónico, acabando por revelar a sua antipatia face ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder, que marcam a realidade portuguesa.

Principal Sousa: para além da hipocrisia e da falta de valores éticos que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza também o conluio entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da primeira em relação à denúncia das verdadeiras injustiças.

D. Miguel: é o protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso ao progresso, insensível à injustiça e à miséria. Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e demagógica, construindo verdades falsas em que talvez acabe mesmo por acreditar. Os argumentos do "ardor patriótico", da construção de "um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor", são o eco fiel do discurso político dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa são talvez as duas personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e hipocrisia que veiculam.

Gomes Freire: homem instruído, letrado, um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder instituído. Assim, quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma situação de revolta que se adivinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a sua presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte, duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e depois queimado, quando a sentença para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe e que se arriscaria a perder se Gomes Freire chegasse ao poder.

Frei Diogo: homem sério; representante do clero; honesto – é o contraposto do Principal Sousa.

Polícias: representam a PIDE.

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