Beresford: personagem
cínica e controversa, aparece como alguém que, desassombradamente, assume o
processo de Gomes Freire, não como um imperativo nacional ou militar, mas
apenas motivado por interesses individuais: a manutenção do seu posto e da sua
tença anual. A sua posição face a toda a trama que envolve Gomes Freire é
nitidamente de distanciamento crítico e irónico, acabando por revelar a sua
antipatia face ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder, que
marcam a realidade portuguesa.
Principal
Sousa: para além da hipocrisia e da falta de valores éticos
que esta personagem transmite, o Principal Sousa simboliza também o conluio
entre a igreja, enquanto instituição, e o poder e a demissão da primeira em
relação à denúncia das verdadeiras injustiças.
D. Miguel: é o protótipo
do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso ao progresso, insensível à
injustiça e à miséria. Todo o seu discurso gira em torno de uma lógica oca e
demagógica, construindo verdades falsas em que talvez acabe mesmo por
acreditar. Os argumentos do "ardor patriótico", da construção de
"um Portugal próspero e feliz, com um povo simples, bom e confiante, que
viva lavrando e defendendo a terra, com os olhos postos no Senhor", são o
eco fiel do discurso político dos anos 60. D. Miguel e o Principal Sousa são
talvez as duas personagens mais execráveis de todo o texto pela falsidade e
hipocrisia que veiculam.
Gomes Freire: homem
instruído, letrado, um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da
justiça. É também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas
ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder
instituído. Assim, quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma
situação de revolta que se adivinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o
símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a
sua presença se torne incómoda não só para os "reis do Rossio", mas
também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte,
duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e depois queimado, quando
a sentença para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a todos
aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma,
económico, representado pela tença que Beresford recebe e que se arriscaria a
perder se Gomes Freire chegasse ao poder.
Frei Diogo: homem sério;
representante do clero; honesto – é o contraposto do Principal Sousa.
Polícias: representam a
PIDE.
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