terça-feira, 9 de outubro de 2012

"O Velho do Restelo"


Inserido no canto IV surge o episódio “O Velho do Restelo”.


Vasco da Gama é o narrador que canta ao rei de Melinde – narratário – a história de Portugal.

Esta narrativa é feita em “in media res” e no decorrer da conversa surge uma estreita correlação entre o episódio “Despedidas em Belém” e o episódio “O Velho do Restelo”.

Ponto d situação: aglomerado de pessoas no porto, para se despedir dos entes queridos que partiam para a Índia. No meio desse ambiente emocionado, destaca-se a figura imponente de um velho que, com a sua "voz pesada", ouvida até nas naus, faz um discurso condenando aquela aventura cujo propósito, segundo ele, é a cobiça, o desejo de riquezas, poder e fama.

O velho interveio junto dos navegadores portugueses que se aprestavam para partir para a empresa marítima da Índia, no sentido de os alertar contra os perigos da ambição em excesso e da cobiça pelas riquezas vindas do Oriente. Diz o velho que, para enfrentar desnecessariamente perigos desconhecidos, abandonavam os perigos urgentes do seu país, ainda ameaçado pelos mouros.

Simbologia

Representa uma corrente desfavorável à expansão para o Oriente, mais tolerante em relação à guerra no Norte de África. Traduz, ainda, o medo do desconhecido e a hesitação perante a novidade.

As falas das mães e das esposas representam a reacção emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”). É a expressão rigorosa do conservadorismo.

Como o Velho do Restelo, pensavam muitos naqueles tempos, assim como muitos pensam hoje em relação a assuntos semelhantes, como a conquista espacial ou a manipulação genética, por exemplo.

Quando representa a voz do bom senso e da fria razão assume a dimensão de personagem alegórica – personagem que defende um ideal/princípio.

O seu discurso denuncia a suposta irresponsabilidade dos marinheiros que se deixavam levar por promessas fantasiosas, pela vitória, para uma aventura com consequências trágicas

Poder-se-á referir que todo o discurso desta figura se contrapõe á ambição explicitada ao longo da viagem realizada por Vasco da Gama. É o negar do sonho, da ambição, da capacidade de iniciativa, logo no seu discurso há:

. A voz do senso comum, dado que ele defendia a quietude simples, a rotina, a anulação do desejo.

. A negação do mar, porque as suas palavras não reflectem o desbravar dos mares, o conhecimento dos “húmidos caminhos”, mas sim, a ligação à terra, às lutas em terra travadas com os Mouros no norte de África. Ignora a natureza aventureira e bem sucedida dos portugueses.

. Um mito humanístico, pois valorizava as batalhas no norte de África, nomeadamente as conquistas em Marrocos.



Logo o Velho simboliza a perspectiva oposta à do espírito épico, apelidando de vaidade aquilo que os outros chamavam de “Fama” e “Glória”, esforço e valentia.

Será que este velho é o porta-voz do bom senso, da prudência, ou daqueles que no Sec. XVI defendiam a expansão no norte de África ou a coordenação da ousadia humana, do ultrapassar dos limites impostos.

 

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