segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"O Sonho de D.Manuel"


Canto IV: Estrofe 74 (Discurso do Rio Ganges no sonho profético do rei D. Manuel I )

«Eu sou o ilustre Ganges, que na terra

Celeste tenho o berço verdadeiro;

Estoutro é Indo, Rei, que nesta serra

Que vês, seu nacimento tem primeiro.

Custar-te-emos contudo dura guerra;

Mas, insistindo tu, por derradeiro,

Com não vistas vitórias, sem receio,

A quantas gentes vês, porás freio.»

 

Canto IV: Estrofe 76

Chama o Rei os senhores a conselho,

E propõe-lhe as figuras da visão;

As palavras lhe diz do santo velho,

Que a todos foram grande admiração.

Determinam o náutico aparelho,

Pera que, com sublime coração,

Vá a gente que mandar cortando os mares

A buscar novos climas, novos ares.

 

Análise

 

Estas duas estrofes descrevem dois momentos subsequentes: em primeiro lugar, o sonho que o rei D. Manuel teve, no qual lhe apareceu o Rio Ganges para profetizar sobre Portugal, sendo que, mesmo depois de dar aos portugueses “dura guerra”, este grande povo lusitano iria dominar novas terras ultramarinas: “Mas, insistindo tu, por derradeiro. / Com não vistas vitórias, sem receio. / A quantas gentes vês, porás freio.”

Em segundo lugar, a atitude imediata do rei, avisando os seus súbditos sobre os feitos gloriosos a eles reservados, o que os anima e faz partir de Lisboa em direcção ao Oriente, ávidos dessa glória, como se pode ler em “Determinam o náutico aparelho. / Pera que, com sublime coração, / Vá a gente que mandar cortando mares / A buscar novos climas, novos ares.” Repare-se na perífrase “náutico aparelho” (em vez de nau/caravela/barco) cuja expressividade é a de realce do meio por onde esse “aparelho” iria movimentar-se: o mar.
 
 
 
- Rio Ganges
 
- Rio Indo

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