quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Proposição, Invocação e Dedicatória N'"Os Lusíadas"


Canto I

Proposição

Síntese


Na proposição, o poeta pretende exaltar:- “As armas e os barões assinalados”/, ou seja, todos aqueles homens cheios decoragem que descobriram, “por mares nunca dantes navegados”, novas terras, indo maislonge do que aquilo que alguém podia esperar de seres não divinos, “Mais do que prometia a força humana”.

-“Daqueles Reis que foram dilatando”/, ou seja, os reis que contribuíram para que a fécristã se espalhasse por terras que foram sendo descobertas, alargando assim o ImpérioPortuguês.

-“E aqueles que por obras valerosas”/, ou seja, todos os que são dignos de seremrecordados pelos feitos heróicos cometidos em favor da pátria e que, por isso, nemmesmo a morte os pode votar ao esquecimento, “Se vão da lei da Morte libertando” poisforam imortalizados.Para tal compara os feitos dos portugueses aos de Ulisses, herói da Odisseia de Homero e aos de Eneias, o troiano que, na Eneida de Virgílio, chegou ao Lácio e fundou Roma.

A proposição funciona como uma apresentação geral da obra, é uma síntese

daquilo que o poeta se propõe fazer.

Propor - significa precisamente apresentar, expor,anunciar, mostrar.


O poeta mostra aquiloque pretende ao escrever a epopeia:“Cantandoespalharei por toda a parte”/. O verbo cantar tem aqui o sinónimo de exaltar, enaltecer ou celebrar.


.Através da poesia,se tiver talento para isso,tornarei conhecidos em todo o mundo


os homens ilustres que fundaram o império português do Oriente 

 

os reis, de D. João I a D. Manuel,que expandiram a fé cristã e o império português 


todos os portugueses dignos de admiração pelos seus feitos.

 Os Lusíadas | Lançamento da Edição fac-similada de um exemplar da 1ª edição de 1572




Invocação
E vós, Tágides minhas, pois criadoTendes em mi um novo engenho ardente,Se sempre, em verso humilde, celebrado Foi de mi vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e sublimado,Um estilo grandíloco e corrente, Por que de vossas águas Febo ordeneQue não tenham enveja às de Hipocrene . Dai-me uma fúria grande e sonorosa, E não de agreste avena ou frauta ruda , Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda. Dai-me igual canto aos feitos da famosaGente vossa, que a Marte tanto ajuda; Que se espalhe e se cante no Universo, Se tão sublime preço cabe em verso.
Invocar -   significa apelar, pedir, suplicar.
Nestas estrofes, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhe que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime: “Dai-me agora um som alto e sublimado,Um estilo grandíloco e corrente,” Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo,onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características dessetipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo imperativo - determinam a estruturado texto: E vós, Tágides minhas, (...) Dai-me (...) Dai-me (...) Dai-me (...)

Dedicatória

6
E vós, ó bem nascida segurança
Da Lusitana antiga liberdade,
E não menos certíssima esperança
De aumento da pequena Cristandade;
Vós, ó novo temor da Maura lança
,Maravilha fatal da nossa idade,
Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,
Para do mundo a Deus dar parte grande;

7
Vós, tenro e novo ramo florescente
De uma árvore de Cristo mais amada
Que nenhuma nascida no Ocidente,
Cesária ou Cristianíssima chamada;
(Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas,
e deixouAs que Ele para si na Cruz tomou)

8
Vós, poderoso Rei,
cujo alto Império O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio do Hemisfério,
E quando desce o deixa derradeiro;
Vós, que esperamos jugo e vitupério
Do torpe Ismaelita cavaleiro,
Do Turco oriental, e do Gentio,
Que inda bebe o licor do santo rio

18
Mas enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos, que o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Para que estes meus versos vossos sejam;
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.

A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões inclui-a n’ Os Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D.Sebastião. Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a esperança da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do império.


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