quinta-feira, 22 de março de 2012

"Os Maias" - Acção e Tempo

Tem 2 planos de acção

O 1º centra-se na família Maia e integra uma intriga secundária – Pedro/ M. Monforte, e uma intriga principal – Carlos/ M. Eduarda.

O 2º, decorrente do subtítulo da obra, é a crónica de costumes, amplo quadro do ambiente sociocultural no qual se movem as personagens.


Tempo

Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma estrutura complexa na qual se integram vários "tipos" de tempos: tempo histórico, tempo do discurso e tempo psicológico.

Tempo Histórico

Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, reflectindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.

N' Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo último membro - Carlos, se destaca relativamente aos outros. A fronteira cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente. Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos.

Tempo do Discurso

Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido.           

Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio com o avô instalar-se definitivamente em Lisboa. Pelo processo de analepse, o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da Maia, educação, casamento e suicídio de Pedro da Maia, e à educação de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutória que dura quase 60 anos.

Esta analepse ocupa apenas 90 páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo histórico é muito mais longo do que o tempo do discurso. Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada. O último capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.

Tempo Psicológico

O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente; é o tempo filtrado pelas suas vivências subjectivas, muitas vezes carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em que se encontra.

No romance, embora não muito frequente, é possível evidenciar alguns momentos de tempo psicológico nalgumas personagens: Pedro da Maia, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte e o comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da Ega, contempla, já no final de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. É o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes vermelhos...".

O tempo psicológico introduz a subjectividade, o que põe em causa as leis do naturalismo.


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